quarta-feira, 18 de junho de 2014

Eu Na Companhia das Estrelas....

Só então me ocorreu que talvez fosse melhor ser um pouco mais diplomático. Se não pudesse levá-los dali no avião, ele poderia simplesmente atirar em mim. Merda. Estava começando a me sentir usado. Amado apenas pelo meu poder aéreo. Como os Estados Unidos antigamente. Primeiro Bangley, agora isso. E se não tivesse avião? E se eu fosse apenas Big Hig, somente passando pelo mundo oferecendo o que podia, um pouco de gentileza, alguma compaixão, algum conhecimento técnico, mas sem avião? A quem está enganando. Bangue.
 E este é Hig. Ele vive em um mundo pós-apocaliptico. A raça humana foi quase que completamente devastada por um vírus denominado no livro como a gripe.

Hig vive com seu companheiro Bangley, além de contar com a companhia de Jasper, seu cachorro, defendendo um perímetro de terra onde se estabeleceram com um aeroporto a seu dispor.

O que temos com esse livro são os pensamentos de Big Hig, pensamentos que se confundem com sua fala. Ao longo do livro fui percebendo como o texto foi disposto justamente para demonstrar uma característica de Hig: ele conversa sozinho. Isso acontece muito ao longo da leitura. O autor se preocupou em não diferenciar falas de pensamentos, tanto que todas as conversações, seja com ele mesmo ou com outra personagem, são sem os tão conhecidos travessões para representar dialogos.


[...]Acho que aquela parte minha acabou de acordar. Provavelmente estivera lá o tempo todo, Hig, e você estava envolto na Bruma. 
A Bruma da Existência, afirmei. 
O quê? 
Desculpe. Às vezes falo sozinho. 
Já notei. 
Verdade? 
Ela assentiu. Eu falo?
Nunca ouvi. 
Silêncio.
Hig não fala muito sobre o que levou ao holocausto, já que nem mesmo ele sabe. Em alguns pontos ele vai lembrando de fatos com sua mulher e que mostram como foi a transição do mundo que conhecemos para o seu mundo atual.

Em Na Companhia das Estrelas, do autor Peter Heller, o herói não irá salvar o planeta da total devastação, ele só vai ser um homem com bom coração e que por alguma razão quer perseverá, mesmo em meio a dor. Eu entendi que o foco da história não é o fim do mundo e sim o mundo de Hig. O ser humano Hig. O que eu faria? O que você faria na situação dele? 

Não pense que a nossa personagem principal é triste, ou pelo menos não completamente, ou o tempo todo. Você não vai só ler lamúrias. Vai ler ironias, sacarmos, adrenalina, devaneios, nuances do ambiente de um ser humano que se encontra em um mundo no fim.

Eu tenho uma queda por narrativas em primeira pessoa, principalmente se o narrador tem uma personalidade peculiar e fascinante. Pensando em como Hig me afetou eu lembrei de Ethan Hawley de John Steinbeck e Brás Cubas de Machado de Assis, meus amigos de outrora. Personagens que me fascinam por seu modo de ser instigante.



Um aceno afirmativo curto. Cima olhou a campina, o cânion. Se fosse pintor - ela era bonita assim. Talvez não ela apenas, mas o momento. O verde refletido mais escuro em seus olhos cor de violeta, e pensei: Se amanhã cairmos e pegarmos fogo, tudo bem.


No final valeu a pena rodar a livraria e encontrar Na Companhia das Estrelas.

Não salve o mundo, salve a si mesmo!




Cola

http://www.brasilescola.com/gramatica/travessao.htm